domingo, 29 de janeiro de 2012

SOBRE PAIS E FILHOS

(Felipe) 

Há tempos a Syl me pede para escrever sobre os gêmeos, o Caio e a paternidade, ou algo parecido com isso. Não penso que seria difícil fazê-lo, não o é, tenho certeza, mas é praticamente impossível sintetizar isso em um único texto.

Esse último ano foi sentimentalmente bem intenso pra gente, e por gente entendam eu, a Syl e o Caio, porém os últimos 2 meses foram também fisicamente intensos, principalmente pra Syl, já que eu tenho um suspiro todo dia no trabalho. Bom, mas estaria mentindo se escrevesse aqui que imaginava que seria muito trabalhoso, sempre pensei que iria ser tranquilo, como está sendo, e que daríamos conta de tudo sozinhos, como estamos dando. Em nenhum momento, desde que a médica nos disse que teríamos gêmeos e não apenas mais 1 filho, achei que as coisas seriam diferentes do que estão sendo. Só não imaginava que a Lys e o Iago, a quem eu chamava de gostosinhos, seriam realmente tão gostosinhos.

Engraçado que quando olho para trás e observo a infinidade de caminhos distintos que poderia ter tomado, os quais me levariam a destinos que, não fossem necessariamente ruins, seriam necessariamente diferentes, me sinto cada vez mais grato às escolhas que fiz ou que me fizeram crer que eu teria feito. Cada ciência retrata isso de uma forma distinta. Fosse na matemática diria que minha vida é uma função com um ótimo absoluto, na economia eu estaria em equilíbrio estável, o que, na singularidade da linguagem popular, significa só que sou um cara feliz, muito feliz.

Tivesse eu feito arquitetura em vez de engenharia, tivesse largado esse mesma engenharia em vez da administração, tivesse escolhido trabalhar em vez de fazer um mestrado, tivesse escolhido o IME em vez da COPPE, tivesse ficado em São Carlos com meus melhores amigos em vez de encarar o Rio de Janeiro sozinho, nenhuma escolha, nenhum caminho diferente, nada, nada disso me deixaria ligado às 4 pessoas que me cercam hoje, que são, que coisa!, exatamente as pessoas que, não tenho nenhuma dúvida, eu sempre quis à minha volta, mesmo antes de conhecê-las.

O mais legal de tudo isso, porém, não é olhar pra trás e celebrar as escolhas que não fiz, é olhar pra frente sabendo que nossa vida em família está só começando, mesmo caminhando para 9 anos de casado e 13 de namoro. Pensar que nos próximos 3 anos nós podemos viver com o Iago e a Lys a mesma experiência surreal que vivemos com o Caio, melhor, ampliada pelas zilhões de coisas novas que ele vai continuar aprontando enquanto os gostosinhos crescem, é combustível suficiente para atenuar toda renúncia que vem junto com a missão de ser pai.

Pra alguém vaidoso como eu renunciar a mim mesmo não seria fácil, mas depois que você vê aquele ser humanozinho crescendo sob seus cuidados e descobre que o que você entendia por gostar de alguém é só algum sentimento muito parecido com gostar de alguém, tudo fica mais claro. Todas as minhas prioridades de vida deixaram automaticamente de fazer sentido, porque, a partir dali, sua vida passa a ter um novo sentido.

Eu então, que passei minha infância/adolescência sobre influência direta do Peter Parker, do Bruce Wayne, do Norrin Radd, entre outros tantos heróis, e que cresci achando que um dia, por que não, eu acordaria e descobriria meus super poderes, esperei bons anos para saber quais seriam, de fato, meus poderes e com eles qual seria, enfim, minha grande responsabilidade. Para quem passou a vida querendo ser o melhor goleiro de todos, ou o mais inteligente, mais legal, hoje fico feliz de ser o melhor goleiro que eu possa ser, o mais inteligente que eu possa ser, ou ainda o mais legal que eu possa ser.

Só tem uma coisa que permanece viva da minha outrora forma grandiloquente de ser, quero ser o melhor pai do mundo pro Caio, pra Lys e pro Iago. Com eles percebi que tenho sim, super poderes, sou finalmente o super-herói que tanto sonhei ser, e isso tudo sem precisar de alter ego, sem nenhuma fantasia transada ou máscara da moda, sem saber voar, soltar teias ou pular por cima de montanhas.

Basta ser pai.

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