segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

VIAGEM NO TEMPO

(Felipe)

Nosso antepenúltimo fim de semana tinha tudo pra ser um findi normal, mas depois da chegada da Lys e do Iago normal passou a ser um conceito muito relativo. No domingo eles fariam 2 meses de vida, parece pouco, mas como cada dia com eles tem umas 48 horas… Como tinha amistoso do Mengão na Globo resolvemos unir o útil ao muito agradável e chamamos uns poucos amigos pro mesversário dos gostosinhos, enquanto a TV da sala estaria ligada na peleja contra a Gambazada. Aliás, temos um “problema” pela frente. Agora com casa cheia fica cada vez mais complicado fazer aqueles convites gerais, chamando todo mundo pros mesversários desse primeiro ano de vida deles. Como felizmente temos muita gente pra chamar, melhor isso do que não ter ninguém, certamente teremos que fazer um rodízio de amigos mês a mês.

Bom, mas para fazer a festa completa, no sábado anterior fomos, eu e o Caio, visitar a loja do Mengão para comprar as vestimentas, as primeiras, dos mais novos rubro-negros da casa. Aliás, diga-se, nada melhor do que nascer e já ter alguém para fazer as escolhas certas por você. Nem todo mundo tem essa sorte.

É claro que isso tem um preço, e como sair com o Caio também não é nada trivial, levamos mais tempo escolhendo um presente para ele do que vendo as roupinhas dos irmãos. Depois de muita luta o convenci a pegar um jogo de botão, em uma caixa que vinha, olha que coincidência!, Flamengo e Corinthians. Era certamente a coisa útil mais barata que dava pra levar da loja, mesmo o Pingo tendo só 3 aninhos. Ele ficou feliz com o presente, mas o que ele queria mesmo era uma camisa de goleiro do Felipe, verde, linda!, exatamente do tamanho dele. Até cogitei comprar, mas seria injusto com os irmãos, já que ela sozinha custava mais do que o dobro do presente dos dois, razão pela qual estávamos lá.

Prego batido, ponta virada, tomamos o rumo de casa pra mostrar à mamãe Syl nossa idéia genial. Sim, pra ela, até então, havíamos saído apenas para cortar o cabelo, o que efetivamente fizemos. Vale o registro, foi a primeira vez que saímos juntos, só eu e o Pingo, pra cortar a cabeleira. Primeiro ele, sentado no meu colo, enquanto o Gabriel, nosso cortador de cabelos a preços justos, dava uma aparada bem de leve naquele mar de caixinhos loirinhos. Depois o papai, dando uma guaribada no moicano, enquanto ele se divertia com os joguinhos do meu celular, que medo! Pior é que as vezes levamos um tempo pra reverter os celulares da casa ao seu estado original depois de passarem pela mão dele. O Caio inventa umas teclas de atalho que nem o pessoal da Android deve saber que existe.

De volta pra casa, mamãe surpreendida, nossa história começa pra valer. Acho que não preciso dizer que a primeira coisa que fizemos ao chegar foi abrir o jogo de botão, seria ululantemente óbvio. Eu só não tinha a menor idéia que aquela caixa remexeria em tantas memórias e sentimentos, uma viagem no tempo.

Voltar a pegar em um jogo de botão depois de tantos anos, só que dessa vez com seu filho, foi, a um só tempo, singelo e intenso. Ensiná-lo como se joga, as regras, como colocar os jogadores no campo, a função da palheta, ver a alegria dele ao fazer um gol, putz!, sem palavras.

O mais louco de tudo é que eu tava ali com ele, curtindo cada segundo, mas minha cabeça estava a mil, revirando todas as memórias em busca do momento em que eu sentei pela primeira vez com meu velho, seu Anchieta, pra jogar botão. Que loucura! Um mar de lembranças veio à tona, os botões que eu tive, os confrontos com meu primo, meu Xalingão, a mesa de futebol de botão que eu namorava sempre que ia à loja de brinquedos do Iguatemi, os botões de osso dos quais meu velho sempre falava – mas que eu nunca vi -, minha invencibilidade (isso, não perco há décadas!). Nossa, quanta coisa.

Cada lembrança dessa rende uma história, um dia, quem sabe, elas ganham vida no papel. Mas pra mim, desse turbilhão emocional, ficou claro que o desejo todo de brincar com o Caio não é só amor ou vontade de estar com ele, é também um pouco de retribuição ao carinho e dedicação que meus pais sempre tiveram comigo. Fui uma criança feliz, brinquei muito e aproveitei cada segundo da minha infância. Sempre sonhei bastante e pude ter boa parte deles realizada e tenho certeza que isso se reflete em mim, pelo menos na parte boa…rs

É exatamente isso que eu quero pro Caio, pra ele e pros irmãos, claro. Que eles sejam crianças felizes, intensas, e cresçam adultos leves, livres de culpa. A diferença é que daqui a algumas décadas, quando ele sentar com meu neto pra jogar botão pela primeira vez e também fazer sua viagem no tempo, ele vai ter essa foto, e vai sorrir, e vai chorar!

 

(Felipe)

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